Inconsistente não.

Leve e Rápido sim, inconsistente não.

Eu trabalho em comunicação há 30 anos. Era muito mais simples. Outros tempos, dos quais não tenho saudade.

Mas há alguns dias estava relendo um livro daquela época (1985), do Ítalo Calvino, “Seis propostas para o novo milênio”. Para a literatura, que era o tema dele. Fala primeiro da leveza, depois da rapidez e deixou para o final a consistência, que não conseguiu terminar porque faleceu.

É da convergência destes três valores que eu gostaria de falar. Se eu fosse fatalista, diria que foi maldição. Depois dele, com a “digitalização do mundo”, conseguimos muito mais rapidez. E isto impactou a comunicação entre pessoas, ou entre instituições e pessoas, de forma definitiva e avassaladora.

Poderia dizer também que tudo ficou mais leve, mas não no sentido que ele pensava. A leveza, para ele, estava associada “à precisão e à determinação, nunca ao vago ou aleatório”. E o que estamos assistindo, sobretudo nas mídias sociais, é um tsunami de informações caóticas e imprecisas, produzidas por fontes desconhecidas, além de interlocuções vazias, inconsistentes.

Este é o ponto. É preciso consistência, relevância, para que haja transformação. Marcas que desejam amadurecer devem ser exigentes. Não é apenas uma questão de gentileza, ou de colocar o cliente em primeiro lugar.  Aquilo que determinada marca diz aos consumidores precisa ser importante para eles.

Esta relevância não advém do peso, da densidade, posto que a leveza às vezes produz melhores resultados e traduz mais adequadamente toda a nossa mutabilidade, um conceito que Calvino também trabalha.

Sejamos dinâmicos, mutáveis, leves e rápidos. Mas não sejamos banais, superficiais e irrelevantes. Vamos tentar, sobretudo nós, profissionais da comunicação, transformar os discursos das instituições que representamos em algo relevante, que comunique a mensagem destas organizações com objetividade e clareza. Talvez assim nossa caixa postal não fique entupida de mensagens que consideramos lixo, que nos rouba o mais precioso bem de nossa época – o tempo.

Como diria Paul Valéry, que Calvino cita, “É preciso ser leve como o pássaro e não como a pluma”. Fica aí o convite.

por Lise Loureiro


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