E agora, José?

Me perdoem pelo título. Foi impossível me livrar dele. Ele vestiu estas letras e voou para o alto do texto.

O poema de Drummond me parece um resumo pré-escrito de um drama, que se arrasta desde o dia que Joseph Blater anunciou que sua Copa seria realizada em Pindorama. A história de um sentimento estranho que transita entre viver o esporte preferido e assistir de camarote a derrocada de nossa identidade.

Está certo que definir uma identidade genuinamente brasileira não é das tarefas mais fáceis. E nem quero tentar descobrir a roda em um texto curto. Mas é certo que as imposições realizadas pela entidade suprema do balípodo deixarão algumas cicatrizes em nossa carteira. Umas mais profundas que as outras, mas que ardem igualmente ao banho de sal.

Quando construímos uma identidade – falo de branding mesmo, tentamos traçar um perfil único, diferenciado e que sintetize a empresa. Uma logo, mais que um símbolo bonito, é um resumo dos atributos da instituição. E essas características devem ser valorizadas, sempre.

A alteração de uma identidade é um processo duro e muito melindroso. Principalmente quando ela não é necessária.

E é isso que assistimos em pay-per-view.

Querem impor um brazillian way of life que não existe. Dizem que a Copa é dos brasileiros, feita por brasileiros, quando, na verdade, tiram o acarajé da bandeja da baiana. Enfiam goela abaixo uma identidade nacional que não existe, cheia de clichês, fulecos e zuzecos. Atacam a identidade nacional e reclamam das vaias.

Querem alterar até nossa fauna com a reprodução artificial de enormes elefantes brancos.

Mas deixem-me guardar minha revolta. Sou passivo demais para fingir ser reacionário. Voltemos a falar da identidade.

O processo de branding bem feito fala por si. Não precisa inventar discursos de defesa nem colocar legendas. Claro que exige um esforço de marketing, mas passa longe, bem longe, da tentativa de ludibriar a realidade.

Seria lógico e brilhante se as qualidades do país fossem elevadas e seus defeitos corrigidos. Simples e encheria a todos de orgulho. Como uma empresa que faz publicidade de suas vantagens competitivas e detecta de antemão seus problemas, para que possa saná-los.

Mas falta um SAC. Não querem ouvir o consumidor por aqui.

Veja como exemplo a diferença abissal de qualidade entre a logo da Copa de 2014 e das Olímpiadas de 2016. Uma, desenhada com a cara midiática da agência África, escolhida por Gisele Bündchen, Ivete Sangalo e Paulo Coelho. Um retrato do Brasil para inglês ver. A outra, fruto de um processo de licitação, entre grandes especialistas na área e que tinham como missão única, refletir as qualidades que deveríamos mostrar ao mundo.

Na logo da Copa somos reféns do estereótipo brasileiro visto lá fora. Na das Olimpíadas temos um estandarte de nossa real identidade.

Mas tem muita gente querendo pintar uma identidade que não existe, com intenções pouco nobres. E assim nossa brasilidade vai se tornando mais pasteurizada, sem personalidade. E nada pior para o processo de branding do que não conseguir se diferenciar.

Será que temos saída? José, para onde?

por Luiz Abreu


Comments are closed.
* campos obrigatórios

Ops! O seu browser deve ser antigo. Experimente o nosso site em outro navegador. Vale a pena!